Critérios para a Conexão de Geração Distribuída no Brasil

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Equipe Safegrid

Publicado em : 19/12/2024

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Critérios para a Conexao de Geracao Distribuida no Brasil

I. INTRODUÇÃO

A Geração Distribuida (GD) refere-se à produção de energia elétrica próxima ou no próprio local de consumo, utilizando diversas fontes renováveis, como solar, eólica, biomassa e pequenas hidrelétricas. A principal caracteristica da GD é a descentralização da geração de energia, diferentemente dos grandes sistemas de geração centralizados.

Os beneficios da GD são variados e significativos. Primeiramente, ela aumenta a segurança energética, pois a proximidade com os centros de consumo reduz a dependéncia de grandes infraestruturas de transmissão, que podem ser vulneráveis a falhas ou desastres. Adicionalmente, a GD contribui para a redução de perdas técnicas na transmissão e distribuição de energia, melhorando a eficiéncia do sistema elétrico. Outro ponto positivo é a promoção da sustentabilidade ambiental, uma vez que muitas das fontes utilizadas sfio renováveis e menos poluentes. Além disso, a GD pode gerar economia para os consumidores e incentivar o desenvolvimento tecnológico e econômico local.

No Brasil, a GD começou a ganhar destaque com a Resolução Normativa n° 482 da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), publicada em 2012. Nesse contexto, regulamentou-se as condição gerais para o acesso de micro e minigeradores aos sistemas de distribuição de energia elétrica. Está normativa permitiu que consumidores pudessem gerar sua propria energia e fornecer 0 excedente a rede de distribuição, em um sistema de compensacdo de energia (net metering).

Além disso, a evolução da GD no Brasil foi impulsionada por politicas públicas de incentivo, pela queda nos custos de tecnologias, como a fotovoltaica, e pela crescente conscientização sobre a importéncia da sustentabilidade. A atualização da normativa, pela Resolução n° 687 de 2015, ampliou os limites de poténcia para micro e minigeração distribuida, além de introduzir novas modalidades, como a geração compartilhada e o autoconsumo remoto [1].

A matriz energética brasileira é reconhecida por sua alta participação de fontes renováveis, especialmente a hidrelétrica. No entanto, a diversificação desta matriz é crucial para aumentar a seguranca energética e reduzir a vulnerabilidade a crises hidricas. Nesse contexto, a GD desempenha um papel fundamental. A figura 1 ilustra o panorama geral da matriz energética brasileira no ano de 2023 e faz uma previsão dessa matriz para o ano de 2027.

Fig. 1. Evolução da Carga e Oferta de Energia do SIN no Brasil

Fig. 1. Evolugao da Carga e Oferta de Energia do SIN no Brasil

No cenário atual, depreende-se que a geração hidrelétrica ainda é predominante, sendo responsável por aproximadamente 59,3% da capacidade instalada. Já com uma participação consideravelmente menor, tem-se a geração térmica, que inclui diversas fontes, como carvão e gás natural, responsáveis por 21,2% da matriz energética brasileira. Analisando o cenário previsto até o ano de 2027, conclui-se que a geração hidráulica perderá espaço e sua participação terá um decaimento em torno de 6,4%. Cabe destacar que haverá um aumento da participação das fontes renováveis, como eólica e solar, as quais serão responsáveis por 23,9% da matriz energética brasileira em 2027.

Sendo assim, a GD contribui para a diversificação da matriz energética ao incorporar uma variedade de fontes renováveis. Isso não apenas complementa a geração hidrelétrica, mas também reduz a dependência de fontes fósseis, alinhando-se aos compromissos do Brasil com a redução de emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, a GD promove a democratização da geração de energia, permitindo que consumidores residenciais, comerciais e industriais participem ativamente na produção de energia, permitindo a criação de novos modelos de negócios e oportunidades de inovação tecnológica.

II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A ANEEL regulamentou diversas leis e resoluções normativas, visando a padronização e normatização da inserção de GD no sistema de distribuição brasileiro.

A. Regulamentação da Geração Distribuída no Brasil

A regulamentação da geração distribuída no Brasil foi formalmente estabelecida por uma série de resoluções normativas da ANEEL, as quais definem os critérios e procedimentos para a conexão de micro e minigerações ao sistema elétrico. As principais resoluções normativas são a de nº 482/2012, a qual criou o marco inicial para a GD no Brasil, estabelecendo as condições gerais para a conexão de microgeração (até 75 kW) e minigeração (até 5 MW) distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica [2]. Ademais, introduziu o sistema de compensação de energia (net metering), permitindo que os consumidores gerassem sua própria energia e compensassem o excedente injetado na rede com o consumo em outros momentos.

A resolução normativa (RN) de nº 687/2015 ampliou a regulamentação estabelecida pela RN 482/2012. Esta proporcionou o aumento dos limites de potência para microgeração e minigeração distribuída, além de introduzir novas modalidades, como a geração compartilhada e o autoconsumo remoto. Com isso, facilitando o acesso de consumidores residenciais e comerciais à GD, incentivando a adoção de sistemas de energia renovável.

Por outro lado, a resolução normativa de nº 1000/2021 consolidou as regras da GD em um único documento, atualizando e simplificando as normativas anteriores. Dessa forma, estabeleceu-se novos procedimentos para conexão, qualidade do serviço e padrões técnicos que devem ser seguidos pelos acessantes e distribuidoras.

Recentemente, a GD sofreu um grande impacto com a lei nº 14.300/2022, mais conhecida como o Marco Legal da Geração Distribuída. Essa lei trouxe mudanças significativas para o setor no quesito de estabilidade regulatória, proporcionando maior segurança jurídica e previsibilidade para investimentos em GD. Nesse contexto, estabeleceu-se regras claras e permanentes para o setor.

Além disso, introduziu-se um período de transição para os sistemas de compensação de energia. Dessa forma, garantindo que os projetos conectados antes de 2023 mantivessem os benefícios originais até 2045, enquanto os novos projetos passarão por um regime de transição até 2029. Com isso, passa a fortalecer novas modalidades, como a geração compartilhada e o autoconsumo remoto, incentivando a participação de mais consumidores e a formação de cooperativas e consórcios. Além do acesso ampliado, o qual facilitou o acesso de pequenos e médios consumidores à GD, promovendo a democratização da geração de energia renovável.

O gráfico 2 ilustra a evolução da mini e microgeração distribuída no Brasil, as quais têm apresentado um crescimento significativo nos últimos anos. A análise da evolução da potência instalada, medida em megawatts (MW), desde 2012 até 2023, evidencia essa expansão. Neste contexto, as barras azuis do gráfico ilustrado representam a potência instalada em cada ano, enquanto a linha demonstra a potência acumulada total ao longo dos anos. Observa-se que, em 2017, a potência acumulada era de 674 MW, subindo para 9.656 MW em 2021 e alcançando 20.341 MW em 2023. A projeção para 2023 indica a continuidade no aumento da potência acumulada, sugerindo um crescimento sustentado na capacidade de geração distribuída no país.

Portanto, o gráfico 2 mostra um crescimento expressivo da MMGD no Brasil, especialmente a partir de 2018. A expansão acelerada entre 2021 e 2022 destaca a rápida adoção e implementação de soluções de GD. Com isso, esses dados refletem a importância crescente da MMGD na matriz energética brasileira e apontam para um futuro promissor na geração de energia sustentável e descentralizada.

Fig. 2. Evolução da MMGD no Brasil (MW)

Fig. 2. Evolugio da MMGD no Brasil (MW)

B. Critérios Técnicos para Conexão

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é uma das maiores concessionárias de energia elétrica do Brasil, a qual estabelece critérios distintos para a conexão de GD envolvendo microgeração e minigeração (baixa e média tensão), conforme detalhado nos documentos regulatórios.

Em baixa tensão, a microgeração distribuída inclui sistemas com potência instalada menor ou igual a 75 kW. A conexão deve ser feita diretamente na rede de baixa tensão (< 1kV), utilizando o mesmo ponto de conexão da unidade consumidora. Em relação aos requisitos técnicos, as instalações devem atender aos padrões definidos pela ANEEL, incluindo a necessidade de inversores certificados e dispositivos de proteção adequados. Além disso, é fundamental garantir que a potência da microgeração não exceda a potência disponibilizada pela distribuidora para a unidade consumidora [3].

Já para média tensão, a minigeração distribuída refere-se a sistemas com potência instalada maior que 75 kW e até 5 MW. A conexão é feita na rede de média tensão (1 kV a 69 kV), o que requer uma análise técnica mais detalhada e, muitas vezes, a construção de infraestrutura adicional, como subestações. Os requisitos técnicos envolvem a apresentação de projetos detalhados, análise de impacto no sistema de distribuição, e o cumprimento de normas de proteção e segurança específicas. A conexão em média tensão pode exigir reforços na rede de distribuição para garantir a estabilidade e a segurança do sistema [4].

Alguns equipamentos e padrões de segurança são exigidos para a conexão, como o caso dos inversores, que em baixa tensão devem atender aos requisitos da ABNT NBR 16149, garantindo que possam operar em harmonia com a rede de distribuição. Os inversores precisam possuir certificação de conformidade do Inmetro e atender às especificações de segurança, como proteção contra surtos e desligamento automático em caso de falhas. Já para a média tensão, além dos requisitos mencionados para baixa tensão, os inversores devem suportar condições mais rigorosas e estar equipados com sistemas de proteção avançados para garantir a confiabilidade da conexão.

Os medidores bidirecionais também são um dos equipamentos exigidos para conexão, sendo responsáveis pelo registro tanto da energia consumida quanto da injetada na rede. A Cemig é responsável pela instalação e manutenção desses medidores, que são essenciais para o sistema de compensação de energia, sendo válidos para baixa e média tensão. Esses equipamentos diferenciam-se apenas pelo fato que na média tensão tem-se requisitos técnicos adicionais, devido à maior complexidade e escala dos sistemas. Os medidores devem ser capazes de lidar com maiores fluxos de energia e garantir precisão na medição para fins de compensação e faturamento. A Figura 3 apresenta a disposição do medidor bidirecional instalado no padrão de entrada de energia da unidade consumidora.

Fig. 3. Disposição de um Medidor Bidirecional

Fig. 3. Disposigfo de um Medidor Bidirecional

Como já mencionado, é essencial seguir alguns padrões de segurança, especialmente no que diz respeito à proteção contra surtos elétricos e ao aterramento adequado dos sistemas. Para instalações de microgeração, deve-se incluir proteção contra surtos elétricos e sistemas de aterramento adequados para garantir a segurança dos equipamentos e das pessoas [3]. As normas da ABNT, como a NBR 5419 para proteção contra descargas atmosféricas, devem ser seguidas rigorosamente. Além destas medidas de proteção exigidas, sistemas de média tensão devem implementar proteções adicionais devido às maiores potências envolvidas. Isso inclui a instalação de dispositivos de proteção mais avançados e sistemas de aterramento mais robustos para garantir a segurança e a continuidade do fornecimento [4].

Dentre as proteções presentes no sistema, são imprescindíveis na baixa tensão a conexão incluindo mecanismos de proteção contra sobrecorrente, sub e sobretensão, além da desconexão automática em caso de falhas [3]. Por outro lado, o uso de dispositivos de proteção anti-ilhamento é obrigatório para evitar a operação isolada dos geradores. Já em média tensão, surge a necessidade da implementação de relés de proteção, sistemas de comunicação para monitoramento remoto e redundância em sistemas críticos, visando garantir a segurança operacional em todas as condições [4].

C. Procedimentos Operacionais

A adesão ao sistema de compensação de energia elétrica é um processo que permite aos consumidores, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, aproveitarem a energia gerada para reduzir seu consumo de energia elétrica da rede. Esse processo varia para consumidores de baixa e média tensão, conforme os regulamentos específicos da Cemig.

Os requisitos para a adesão em baixa tensão estabelecem que os consumidores devem possuir microgeração ou minigeração distribuída, podendo ser local ou remota, integrante de empreendimento de múltiplas unidades consumidoras (EMUC), ou fazer parte de um sistema de geração compartilhada ou autoconsumo remoto [3]. Já em tensões mais elevadas, os consumidores em média tensão podem também integrar centrais geradoras de fontes renováveis ou cogeração qualificada de até 5 MW [4].

Caso haja a necessidade de consulta e pedido de conexão, a distribuidora deve fornecer gratuitamente um orçamento estimado para conexão ao sistema de distribuição, no prazo de 30 dias a partir da solicitação. Após a consulta, o consumidor deve formalizar o pedido de conexão, que será analisado pela distribuidora para definir as condições e alternativas de conexão disponíveis. Sendo que, após a aprovação dos projetos, as obras de adequação necessárias para a conexão devem ser realizadas.

Os projetos devem seguir as normas técnicas específicas da Cemig, como ND 5.30, para baixa tensão, e ND 5.31, para média tensão. Essas normas especificam os requisitos de aterramento, postes, ramais de ligação, entre outros elementos cruciais para a segurança e operação adequada das instalações.

Após a execução das obras, a Cemig realiza uma série de vistorias, inspeções e testes para assegurar que as instalações atendem aos padrões técnicos e de segurança. Inspecionando fisicamente as instalações para verificar a conformidade com os projetos aprovados. Em casos onde o acesso físico não é viável, pode ser necessário fornecer fotografias georreferenciadas das instalações. Além disso, tem-se a realização de testes nos sistemas de proteção e medição para garantir a operação segura e eficiente das instalações.

D. Aspectos Econômicos e Financeiros

A conexão de sistemas de GD envolve custos que variam conforme a tensão e as responsabilidades financeiras dividem-se entre os consumidores e a distribuidora.

Para consumidores em baixa tensão, os custos de conexão incluem apenas a infraestrutura necessária para conectar a geração distribuída ao sistema de distribuição da Cemig. Esses custos podem envolver melhorias ou reforços na rede de distribuição, instalação de medidores bidirecionais e eventuais ajustes na infraestrutura existente. Os consumidores são responsáveis pelas obras de conexão de uso restrito e pelas instalações no ponto de conexão. Já a concessionária, é responsável pelos custos de melhorias ou reforços no sistema de distribuição, que não sejam exclusivamente para a conexão da microgeração [3].

Por outro lado, para consumidores em média tensão, além dos custos similares aos de baixa tensão, há a necessidade de projetos mais complexos, como subestações e sistemas de proteção adicionais. Os custos são detalhados em orçamentos que incluem mão-de-obra, materiais, equipamentos e o cronograma físico-financeiro para execução das obras. A responsabilidade pelo pagamento dos custos de conexão é compartilhada entre a distribuidora e o consumidor. O consumidor pode optar pela antecipação da execução das obras, seja por aporte de recursos ou pela execução direta das obras de responsabilidade da distribuidora [4].

Ademais, a legislação brasileira oferece diversos incentivos fiscais para promover a GD, além de tarifas específicas para facilitar a adoção desse modelo. Alguns estados brasileiros oferecem isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a energia gerada e consumida no mesmo local. Essa isenção pode representar uma significativa economia para os consumidores com GD. A legislação federal pode oferecer a redução ou isenção de PIS/Cofins sobre a energia injetada na rede, dependendo da fonte de energia e da capacidade instalada.

Já em relação às tarifas aplicáveis os consumidores de baixa e média tensão, que aderem ao sistema de compensação de energia elétrica, são baseadas no consumo líquido de energia, isto é, a diferença entre a energia consumida e a energia gerada e injetada na rede.

A análise de custo-benefício da implementação de GD envolve a avaliação de diversos fatores econômicos e operacionais. Sendo que a principal vantagem econômica para os consumidores é a redução da conta de energia elétrica, resultante da compensação da energia gerada. Consumidores de baixa e média tensão podem ver uma significativa redução nos custos com energia ao adotar sistemas de GD. O tempo de retorno sobre o investimento (payback) em sistemas de GD varia conforme a capacidade instalada e os incentivos fiscais aplicáveis. Em média, o payback para sistemas de microgeração distribuída pode variar entre 4 a 7 anos, enquanto para minigeração pode ser um pouco maior devido aos custos iniciais mais altos.

Em relação às distribuidoras, a GD pode ajudar a reduzir as perdas técnicas na rede, uma vez que a energia gerada localmente reduz a necessidade de transporte de energia por longas distâncias. Contudo, a inclusão de fontes renováveis de energia distribuída ajuda a diversificar a matriz energética, aumentando a resiliência e a sustentabilidade do sistema elétrico. Ademais, a implementação de GD pode aumentar os custos de manutenção e operação para as distribuidoras, especialmente no que se refere à gestão e integração de múltiplas pequenas fontes de geração na rede.

E. Aplicação no Brasil

Um exemplo significativo de sucesso em GD no Brasil é o projeto de energia solar residencial, onde consumidores individuais instalaram sistemas fotovoltaicos em suas residências. Um caso notável ocorreu em Minas Gerais, onde diversos consumidores de baixa tensão instalaram painéis solares em seus telhados, aproveitando a legislação estadual que concede isenção de ICMS sobre a energia gerada e consumida localmente. Esses projetos, além de reduzir as contas de energia elétrica dos consumidores, contribuíram para a sustentabilidade ambiental e para a descentralização da geração de energia.

Na categoria de média tensão, destaca-se o projeto de minigeração fotovoltaica em uma cooperativa agrícola. Neste caso, a cooperativa instalou uma planta solar de 1 MW para atender suas necessidades energéticas. A energia excedente gerada é injetada na rede, gerando créditos de energia que são utilizados para compensar o consumo em outras unidades da cooperativa. Este projeto, além de promover a economia nas contas de energia, também contribuiu para a sustentabilidade e a redução da pegada de carbono da cooperativa.

A partir de uma análise de impacto econômico em baixa tensão, geralmente tem-se um custo inicial menor e um tempo de retorno sobre o investimento mais curto. A economia nas contas de energia pode ser significativa, especialmente quando combinada com incentivos fiscais, como a isenção de ICMS. Além disso, esses projetos aumentam a valorização dos imóveis e geram empregos locais durante a instalação e manutenção dos sistemas.

Por outro lado, os projetos de média tensão, como o da cooperativa agrícola, demandam investimentos iniciais mais altos, porém proporcionam economias de escala maiores. O retorno sobre o investimento pode ser observado a partir do quinto ano, dependendo do tamanho e da eficiência do sistema instalado. Além disso, esses projetos podem gerar créditos de energia substanciais, que podem ser utilizados para reduzir ainda mais os custos energéticos da cooperativa.

Nesse contexto, analisando o critério ambiental dos projetos residenciais de GD em baixa e média tensão, a instalação de sistemas fotovoltaicos residenciais contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, substituindo parcialmente a energia gerada por fontes fósseis. Além disso, promove a conscientização ambiental entre os consumidores e a adoção de práticas sustentáveis no dia a dia.

Pode-se destacar algumas lições aprendidas, como a importância de um planejamento detalhado e a elaboração de projetos bem estruturados, fundamentais para o sucesso dos projetos de GD. Isso inclui a avaliação precisa dos recursos solares disponíveis e a seleção adequada dos equipamentos. Sendo assim, há uma necessidade de um programa robusto de manutenção e monitoramento contínuo dos sistemas para garantir a eficiência e a longevidade dos projetos de GD. Sistemas de monitoramento remoto e manutenção preventiva foram cruciais para evitar falhas e maximizar a geração de energia. Adicionalmente, tem-se a eficácia das políticas de incentivo fiscal e tarifário para fomentar a adoção de GD foi uma lição valiosa. A continuidade e a ampliação desses incentivos são essenciais para o crescimento sustentável do setor de energia renovável no Brasil.

F. Impacto da Geração Distribuída na Rede Elétrica

A GD tem impactos significativos na estabilidade e qualidade da rede de distribuição de energia elétrica. Esses efeitos variam conforme a tensão de operação e a capacidade instalada das unidades.

Em valores mais baixos de tensão, a presença de GD pode provocar variações na tensão da rede, especialmente em momentos de alta geração e baixo consumo. Isso pode causar sobrecargas ou quedas de tensão em sistemas que não estão adequadamente preparados. Ademais, os equipamentos de microgeração, como inversores fotovoltaicos, podem introduzir distorções harmônicas e desequilíbrios de tensão [3]. Contudo, o uso de inversores modernos, que seguem as normas ABNT NBR 16149, ajuda a mitigar esses efeitos.

Já em sistemas de média tensão, a GD pode causar variações de frequência e tensão mais significativas devido à maior capacidade de geração e à sensibilidade dos equipamentos industriais [4]. As variações de tensão de curta duração (VTCD) e as flutuações de tensão são fenômenos comuns, que podem afetar a estabilidade da rede. A Cemig estabelece limites rigorosos para a distorção harmônica e desequilíbrios de tensão, que devem ser respeitados pelos acessantes. As medições e monitoramentos contínuos são realizados para garantir que esses limites não sejam ultrapassados [5].

Para integrar a GD de forma eficiente e minimizar os impactos negativos na rede, são necessárias várias soluções técnicas e operacionais, como a utilização de reguladores de tensão, compensadores de reativos e sistemas de monitoramento e controle. Na baixa tensão, a instalação de reguladores de tensão e compensadores de fator de potência nas unidades consumidoras pode ajudar a manter a estabilidade da tensão e a qualidade da energia fornecida [3]. Já para a média tensão, o uso de bancos de capacitores e reguladores de tensão entre a subestação e as unidades de GD ajuda a controlar as variações de tensão e a melhorar a estabilidade da rede [4].

A implementação de sistemas de monitoramento contínuo, da qualidade da energia e das condições de operação dos sistemas de GD, é essencial. Isso inclui a instalação de medidores inteligentes, que registram dados de tensão, corrente e qualidade da energia. Além da automação das redes de distribuição, com a instalação de religadores automáticos e sistemas de proteção avançada, que ajuda a responder rapidamente aos eventos de falha, melhorando a resiliência da rede.

A GD desempenha um papel importante na redução de perdas técnicas e na melhoria da eficiência energética da rede de distribuição. Ela reduz as perdas de energia na transmissão, uma vez que a geração ocorre próxima ao ponto de consumo. Dessa forma, pode-se aliviar a carga nas linhas de distribuição, reduzindo as perdas técnicas associadas ao transporte de grandes quantidades de energia.

G. Futuro da Geração Distribuída no Brasil

A Geração Distribuída no Brasil tem apresentado um crescimento significativo nos últimos anos, impulsionada principalmente pela energia solar fotovoltaica. As perspectivas indicam uma continuidade nesse crescimento, com projeções de aumento substancial na capacidade instalada até 2030.

A fotovoltaica deve continuar liderando o crescimento da GD no Brasil, uma vez que a tecnologia tem se tornado cada vez mais acessível e eficiente, com custos de instalação e manutenção reduzindo gradativamente. Além dessa fonte de energia, outras fontes renováveis, como a eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), também têm potencial para expansão, diversificando a matriz energética da GD. Cabe ressaltar também, as inovações em armazenamento de energia [6], como baterias de alta capacidade, são esperadas para otimizar o uso da GD. Nesse contexto, a integração de tecnologias, como a internet das coisas (IoT) e inteligência artificial (IA), na gestão dos sistemas de GD pode aumentar a eficiência.

 

Fig. 4. Evolução da Carga e Oferta de Energia no Brasil em (GW médios)

Fig. 4. Evolugdo da Carga e Oferta de Energia no Brasil em (GW médios)

 

Os benefícios da GD são significativos, incluindo a redução das perdas técnicas na transmissão de energia, a diminuição da dependência de grandes infraestruturas de transmissão e a promoção da sustentabilidade ao integrar fontes renováveis, como solar, eólica, biomassa e pequenas hidrelétricas. Além disso, a GD democratiza a geração de energia, permitindo a participação ativa de consumidores residenciais, comerciais e industriais na produção de energia, o que fomenta a inovação tecnológica e o desenvolvimento econômico local.

Os desafios para a expansão da GD incluem a necessidade de atualização constante da regulamentação para acompanhar o crescimento do setor, a adaptação da infraestrutura de distribuição e a implementação de tecnologias avançadas para garantir a eficiência e a estabilidade da rede elétrica. A integração de soluções como redes inteligentes (smart grids) e sistemas de armazenamento de energia emergentes, como baterias de alta capacidade, são fundamentais para otimizar a gestão da energia gerada e consumida, melhorando a resiliência e a sustentabilidade do sistema elétrico brasileiro.

Os casos de aplicação no Brasil evidenciam o impacto positivo da GD na economia e no meio ambiente, demonstrando a viabilidade técnica e econômica da adoção de sistemas de micro e minigeração distribuída. As lições aprendidas ressaltam a importância do planejamento detalhado, da manutenção contínua e dos incentivos fiscais para garantir a longevidade e a eficiência dos projetos de GD.

REFERÊNCIAS

[1] João Lucas de Souza Silva, Michelle Melo Cavalcante, Rodrigo Machado, Murilo Ribeiro da Silva e Danielle Bandeira de Mello Delgado. “Análise do avanço da geração distribuída no Brasil”. Em: Anais Congresso Brasileiro de Energia Solar-CBENS. 2018.

[2] Marcos Vinícius Xavier Dias et al. “Geração distribuída no Brasil: oportunidades e barreiras”. Em: (2005).

[3] Diretoria Cemig Distribuição. “Requisitos para a Conexão de Acessantes ao Sistema de Distribuição Cemig D — Conexão em Baixa Tensão”. Em: ().

[4] NORMA DISTRIBUIÇÃO. 5.31. Requisitos Para Conexão de Acessantes Produtores de Energia Elétrica ao Sistema de Distribuição da Cemig D-Média Tensão.

[5] Procedimentos de Distribuição. “Módulo 8 — qualidade da energia elétrica”. Em: Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL (2010).

[6] AFM Bueno e CAL Brandão. “Visão geral de tecnologia e mercado para os sistemas de armazenamento de energia elétrica no Brasil”. Em: Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia 1 (2016), pp. 1-62.

[7] Yascara FF Costa e Silval Edson C Bortoni. “Sistemas de armazenamento de energia elétrica em redes inteligentes: Características, oportunidades e barreiras”. Em: (2016).

[8] Fabio Pereira. “Energy storage systems (sistemas de armazenamento de energia)”. Em: Neutro à Terra 12 (2013), pp. 17-28.